Trump celebra PIB e diz que EUA provocam inveja
Donald Trump, triunfante, reivindicou crédito na sexta-feira (27) por números que mostram que a economia dos Estados Unidos cresceu ao seu ritmo mais rápido em quase quatro anos, no segundo trimestre de 2018, ainda que economistas alertassem que a alta seria difícil de repetir nos meses vindouros.
"Trata-se de uma virada econômica que tem importância histórica", declarou Trump, depois que novos dados apontaram para um crescimento econômico anualizado de 4,1,% no segundo trimestre.
O presidente americano afirmou que a confiança das empresas havia atingido "picos históricos" e que suas políticas "American First" (América primeiro, em inglês) no comércio internacional e para a indústria estavam gerando crescimento rápido no emprego.
Ele também insistiu que os dados mais recentes apontavam para crescimento ainda maior no futuro, e descartou a ideia de que eles podem representar um pico, como muitos economistas acreditam.
"Esses números são muito, muito sustentáveis. Não estamos falando de um fenômeno único, e em minha opinião nos sairemos muito, muito bem no próximo relatório", disse, prevendo crescimento "notável" no terceiro trimestre. "Nós revertemos tudo. Nossa economia causa inveja no mundo todo".
Os números anunciados sexta-feira (27) confirmam as expectativas de Wall Street e representam o crescimento mais rápido registrado desde o terceiro trimestre de 2014, quando a economia dos Estados Unidos cresceu em ritmo anualizado de 4,9%. Eles apontam para uma aceleração no crescimento, ante o primeiro trimestre, quando a economia americana cresceu em ritmo anualizado de 2,2%, de acordo com Departamento do Comércio americano. As ações americanas não mostravam muito movimento de preço, na metade do dia.
O desempenho no segundo trimestre veio por causa da alta no consumo e no investimento empresarial, causada em grande parte pelo estímulo do corte de impostos aprovados no final do ano passado.
Mas os números também refletem fatores extraordinários que, segundo os economistas, tornariam difícil reproduzir o mesmo desempenho no resto do ano, especialmente diante da previsão do Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, de mais dois aumentos nas taxas de juros até o final do ano, a fim de impedir um superaquecimento da economia.
Entre esses fatores estavam uma alta nas exportações que muitos economistas acreditam tenha sido causada por esforços dos compradores estrangeiros de soja e outros produtos de exportação americanos para formar estoques antes da imposição de tarifas comerciais pelos Estados Unidos e por seus parceiros comerciais.
Esse efeito comercial dificilmente será repetido nos próximos meses, e os economistas agora estão mais preocupados com o possível efeito que as guerras comerciais de Trump podem causar no crescimento. Em anúncios de resultados trimestrais realizados esta semana, empresas como a General Motors, Whirlpool e Coca-Cola alertaram que estão sendo prejudicadas pelas tarifas, que geram alta de custos. Organizações de agricultores também se queixaram de um colapso nos pedidos de commodities como a soja e a carne de porco.
"No geral, vemos o relatório como sustentação de nossa visão de que a economia no momento está funcionando muito bem, e de que o crescimento provavelmente chegou a um pico", disse Bricklin Dwyer, economista sênior do banco BNP Paribas para os Estados Unidos. "Embora antecipemos que a economia continue forte em curto prazo, o crescimento deve se desacelerar em algum momento do ano que vem, quando o efeito do estímulo fiscal se dissipar e as condições monetárias mais rígidas começarem a se fazer sentir".
Paul Ashworth, economista chefe da Capital Economics para os Estados Unidos, disse que a alta de 9,3% nas exportações no segundo trimestre foi uma distorção causada por uma alta anualizada de 80% na exportação de alimentos, ração animal e bebidas, propelida primariamente pelo crescimento nos embarques de milho e soja, antecipados para evitar tarifas.
O comércio externo elevou em um ponto percentual o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), em termos líquidos; as importações subiram em apenas 0,5% no segundo trimestre, segundo Ashworth.
Os números do crescimento americano estão sendo acompanhados com atenção, no período que antecede a eleição legislativa de novembro, na qual o Partido Republicano, de Trump, enfrenta a perspectiva de perder sua maioria em pelo menos uma das casas do Congresso.
Os republicanos do Congresso estão preocupados com a possibilidade de que as guerras comerciais de Trump reduzam os benefícios econômicos dos cortes de impostos, e vêm expressando cada vez mais ceticismo quanto às tarifas de Trump sobre o aço e o alumínio, bem como sobre suas ameaças de impor novas tarifas de importação aos carros estrangeiros.
Tradução de PAULO MIGLIACCI