Uber quer atingir valor de mercado de US$ 91,5 bilhões em sua abertura de capital
A Uber quer atingir capitalização de mercado de até US$ 91,5 bilhões (R$ 360 bilhões) em sua abertura de capital, abaixo do valor que seus bancos esperavam mas ainda assim a colocando em posição para fazer a maior oferta pública inicial de ações no Vale do Silício desde a abertura de capital do Facebook.
O grupo de serviços de carros está oferecendo ações aos investidores em uma faixa de flutuação dos US$ 44 aos US$ 50, em um momento no qual um rebanho de empresas de tecnologia com alta valorização, que inclui Zoom, Slack e Pinterest, corre para chegar ao mercado.
Na ponta mais alta da avaliação revelada na sexta-feira, a Uber arrecadaria até US$ 9 bilhões com a oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês), e investidores existentes como o Softbank, Benchmark e os cofundadores Travis Kalanick e Garett Camp também poderiam vender até US$ 1,4 bilhão em ações.
A avaliação inicial, revelada em documentos atualizados encaminhados às autoridades financeiras, estima o valor da empresa em entre US$ 80,5 bilhões e US$ 91,5 bilhões, com base no total de ações e opções concedidos, e supera o da mais recente rodada de capitalização privada da companhia, mas fica abaixo da faixa de US$ 48 a US$ 55 por ação indicada a alguns investidores no mês passado, que teria resultado em capitalização de mercado total da ordem de US$ 100 bilhões.
A avaliação conservadora adotada pela Uber pode crescer depois de reuniões com investidores, no prazo que resta para o IPO, marcado para o mês que vem, mas acompanha a estreia pouco inspiradora da rival Lyft no mercado de ações. As ações da Lyft estão sendo negociadas mais de 20% abaixo de seu preço de oferta inicial.
Além da oferta pública, a Uber venderá também cerca de US$ 500 milhões em ações ao PayPal em uma transação privada, por preço igual ao do IPO, anunciou a empresa na documentação apresentada sexta-feira.
O PayPal cuida do processamento dos pagamentos da Uber nos Estados Unidos e em diversos outros países. Como parte do acordo de investimento, as companhias anunciaram um acordo comercial expandido e de alcance mundial, e a intenção de estudar futuras colaborações, que incluiriam o desenvolvimento de um serviço digital de pagamentos pela Uber, de acordo com a documentação.
O Bank of America se uniu ao Morgan Stanley e Goldman Sachs como organizadores do IPO.
O preço inicial anunciado na sexta-feira dá início a uma campanha de marketing envolvendo os executivos da companhia e de seus bancos. Mesmo com a redução anunciada, a Uber ainda estaria arrecadando o segundo maior montante para uma empresa de tecnologia sediada nos Estados Unidos, abaixo apenas do Facebook, que arrecadou US$ 16 bilhões com seu IPO em 2012, de acordo com a Dealogic.
O Vision Fund, do Softbank, que investiu US$ 7,7 bilhões na Uber em janeiro de 2018 e se tornou o maior acionista da empresa, colocou à venda ações que valeriam US$ 272,5 milhões, sob a cotação mais alta anunciada.
Isso deixaria em mãos da companhia japonesa de investimento em tecnologia uma fatia da Uber que pode valer até US$ 10,8 bilhões, com a abertura de capital.
Depois de vender ações em valor de US$ 1,4 bilhão em uma transação privada no ano passado, Kalanick, que comandou a Uber de 2010 até ser derrubado em 2017 por conta de uma série de controvérsias, pode vender até US$ 186,8 milhões de ações a mais no IPO. Depois disso, sua fatia restante da Uber continuaria a valer até US$ 5,7 bilhões, pelo valor mais alto proposto.
Dois dos maiores acionistas da Uber, o grupo Alphabet, que controla o Google, e o fundo de investimento público da Arábia Saudita, não venderão ações na abertura de capital.
Os documentos da Uber sobre a oferta revelaram que a empresa vem gastando muito dinheiro para manter sua fatia de mercado. A empresa queimou US$ 2,1 bilhões em reservas de caixa em 2018, depois de gastar US$ 4,5 bilhões em 2016.
O ritmo do crescimento na receita do setor de serviços de carros se desacelerou nos últimos meses, devido a pressões de concorrência que resultam em tarifas subsidiadas e recompensas maiores para os motoristas.
Os documentos apresentados na sexta-feira revelam que o crescimento na receita da Uber ante 2018 se desacelerou para entre 18% e 20% no primeiro trimestre de 2019, para entre US$ 3 bilhões e US$ 3,1 bilhões, em valores não auditados. Um ano atrás, o crescimento no período foi de 70%.
O prejuízo da empresa foi de pelo menos US$ 1 bilhão nos três primeiros meses de 2019. O número de usuários ativos da plataforma no mês - o termo que a Uber emprega para classificar os usuários de seus serviços de transporte ou do serviço de entregas de comida Uber Eats - subiu em 33% ante o total do período em 2018, para 93 milhões.
Questões sobre as margens de lucro dos serviços online de carros pesaram sobre as ações da Lyft. Lançadas ao preço de US$ 72 no final de março, as ações da Lyft fecharam cotadas a US$ 56,34 na quinta-feira, com queda de 2,6% no dia.
A Uber foi avaliada em US$ 48,77 por ação, ou US$ 76 bilhões, em uma rodada privada de capitalização em agosto, e obteve mais de US$ 24 bilhões em capital acionário e emitindo títulos de dívida para investidores privados, de sua fundação em 2009 para cá, de acordo com a Crunchbase.
Dara Khosrowshahi, o presidente-executivo da empresa, no posto desde 2017, e outros quatro executivos importantes detêm opções sobre quase quatro milhões de ações, como incentivo para resolver os problemas da Uber e conduzi-la rapidamente ao IPO.
Mas esses benefícios só compensarão caso o valor de mercado da Uber se mantenha acima de US$ 120 bilhões por pelo menos três meses. Os líderes da empresa têm prazo até 2023 para atingir essa meta de desempenho.
Tradução de Paulo Migliacci