Um futuro para as universidades federais?
Com o lançamento do Future-se, alguns problemas vividos pelas universidades federais foram destacados. Mais do que as soluções propostas pelo governo, muitas relacionadas a financiamento privado e a flexibilidade de gestão, seria bom nos determos no diagnóstico feito pelo ministério.
De fato, como apontado na apresentação do programa, faltam às instituições, por um lado, maior internacionalização e, por outro, integração com seus contextos de atuação. Existem iniciativas importantes na direção correta, mas precisamos avançar muito mais.
Explico-me: por serem centros de produção de conhecimento e difusão de saberes, a conexão com polos similares no mundo é particularmente relevante. Em tempos de desprezo à ciência, nada como conhecer o que já foi testado no mundo e prosseguir a partir daí, preservando a pluralidade de vozes.
Quanto à integração com os estados em que estão localizadas as universidades, é urgente pensar no projeto de desenvolvimento de cada região e em pesquisas que dialoguem com essas realidades, na perspectiva de promoção de um crescimento mais sustentável e inclusivo.
Os dois pontos —a internacionalização e a contextualização— estão ligados, pois obrigam a universidade a não ser autorreferenciada, a não se perceber como um fim em si mesma. É importante que as instituições de ensino superior sejam autônomas, mas não divorciadas de seu tempo e espaço.
Aparece também no Future-se uma menção à governança. Certamente há muitos aspectos que demandariam modernização na gestão das universidades, como o de se evitar um desenho excessivamente corporativista nos conselhos e ampliar a participação da sociedade civil. Mas outros pontos merecem atenção, não citados no relatório: um deles é que nem todas as instituições universitárias precisam ser de pesquisa.
Aqui, como lembra Simon Schwartzman, acabamos mantendo todas as federais e estaduais como vocacionadas para a pesquisa, sem diversificar a natureza das instituições. Isso poderia ser revisto. Além disso, precisaríamos aperfeiçoar, mesmo que se mantenha essa vocação, a forma de ensinar. Há certo desdém por processos pedagógicos nas instituições de ensino superior que precisaria ser revisto.
Por fim, vale a provocação do ministério, mas as soluções propostas não parecem resolver os principais problemas e aumentam a sensação de que a universidade está sob ataque, num contexto de falas agressivas e de recursos escassos. Melhor seria abrir um diálogo sereno com os reitores e escalar as boas práticas já existentes em muitas delas. A raiva nunca foi boa conselheira!