Wal do Açaí é uma trinca na imagem de ruptura que Bolsonaro vende

O episódio da Wal do Açaí, funcionária parlamentar de Jair Bolsonaro demitida após ser flagrada vendendo a intragável gororoba numa cidadezinha fluminense, explodiu no radar do entorno do candidato líder das pesquisas que descontam Lula.

Como o teatro da candidatura do petista está próximo do fim, a partir do fim do prazo para seu ilegal registro e subsequente questionamento formal, em breve Bolsonaro deverá ser medido contra um cenário mais consolidado de concorrência.

Não há pesquisa alguma para dar alguma previsão à avaliação, mas duas conversas nesta terça (14) me deixaram com a impressão de que Wal ainda será um espinho complicado para a vaudevilleana campanha do deputado —logo num momento em que ele atrai interesse do PIB em São Paulo, se não por entusiasmo, ao menos por precaução.

A primeira troca foi aquela que nunca deve ser citada por um jornalista, como reza o cânone: com um taxista no centro de São Paulo. A segunda, mais estruturada, com um produtor rural de um interior bem interior do Sul do Brasil. Ambos eleitores do deputado, eles citaram, de forma espontânea, o episódio de Wal.

O substrato das observações era o mesmo: o caso em si não seria grave, mas mostra que Bolsonaro é um deputado como todos os outros. Isso parece fatal para as pretensões de quem procura vender a imagem de ruptura com o sistema político no qual está imerso há 28 anos.

Como já dito aqui, não é apontar as bizarrices de Bolsonaro que vai tirar seu voto. Ele pode não ganhar nenhum a mais, outra constatação, mas o que pode efetivamente desidratá-lo parece ser a associação com o “mais do mesmo”. Aí, suas desvantagens estruturais (preparo, experiência, rede político-partidária) acabam se sobressaindo.

Não é nada casual que os primeiros memes circulados por políticos adversários no WhatsApp já estavam na rua antes do meio-dia. De inocentes, eles não tinham nada. Esta é uma guerra na qual todas as trincheiras experimentam o mesmo gás mostarda.

Naturalmente, os apoiadores do deputado vão dizer que é tudo coisa da imprensa malvada. O núcleo duro desse grupo não muda de voto. A dúvida que fica, e anima tucanos e outros, é sobre como se comportarão as franjas dele.

 

Em velocidade condizente com o mundo interconectado em que vivemos, passamos do apocalipse emergente para uma apreensiva observação da crise na Turquia no período de algumas horas nesta terça (14).

Quem pode mesmo comemorar é nosso seleto grupo de presidenciáveis. Se a confusão se agrava, eles seriam obrigados a se pronunciar sobre como proteger o Brasil dos solavancos adicionais num cenário já volátil.

Grosso modo, sem tempo para consulta aos universitários, poderiam sair dali mutismo ou enunciados à H. L. Mencken —soluções simples, elegantes e erradas para problemas complexos.
 

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