WhatsApp limita mensagens na Índia após notícias falsas levarem a linchamentos
O WhatsApp anunciou que vai limitar o número de vezes em que mensagens trocadas por meio do aplicativo podem ser encaminhadas na Índia, como forma de coibir a disseminação de informações falsas em sua plataforma.
O anúncio foi feito depois que uma série de linchamentos de pessoas foi relacionada a mensagens que circularam em grupos do WhatsApp.
Na quinta-feira (19), o governo reemitiu um alerta à companhia de que poderia sofrer consequências jurídicas se continuasse sendo uma "espectadora muda" do que estava acontecendo.
Com mais de 200 milhões de usuários, a Índia é o maior mercado do aplicativo.
O WhatsApp disse que seus usuários indianos "encaminham mais mensagens, fotos e vídeos do que os de qualquer outro país do mundo".
Grupos podem ter no máximo 256 pessoas. Muitas das mensagens que acredita-se terem sido o gatilho para os atos de violência foram encaminhadas para vários grupos que tinham mais de 100 membros cada.
Restrição ao volume de mensagens
Em seu site, a empresa anunciou que estava "lançando um teste para limitar o encaminhamento de mensagens que será aplicado a todos que usam o WhatsApp".
Para usuários indianos, no entanto, a opção de encaminhamento será limitada ainda mais. Um porta-voz da companhia disse à BBC News que cada pessoa seria autorizada a encaminhar uma mensagem apenas cinco vezes.
No entanto, isso não impede que outros membros de um grupo encaminhem a mensagem para mais cinco conversas por conta própria.
O WhatsApp acrescentou que esperava que a medida diminuísse a frequência do repasse das mensagens.
A empresa também disse que removeria o "botão de avançar rapidamente" próximo a mensagens contendo fotos ou vídeos.
Linchamento de inocentes
As mudanças no aplicativo ocorrem após uma série de linchamentos que resultaram em pelo menos 18 mortes em toda a Índia desde abril. Dados divulgados na mídia, entretanto, apontam um número de mortes ainda maior.
A violência tem sido atribuída a rumores de sequestros de crianças espalhados pelo WhatsApp, que levaram estranhos a serem atacados nas ruas. Segundo a polícia, está sendo difícil convencer a população de que as mensagens são falsas.
Em um dos casos que ajudaram a espalhar o pânico e contribuíram para um final trágico, um vídeo compartilhado por meio do aplicativo mostra, em plena luz do dia, uma criança sozinha na rua ser agarrada por um motociclista e, de repente, levada embora, para desespero dos vizinhos.
A cena na verdade, se tratava de mais um caso de notícia falsa —ou fake news, como o termo ficou popularmente conhecido.
O vídeo original tinha cunho informativo e havia sido gravado por autoridades do Paquistão para alertar sobre a segurança de crianças nas ruas de Karachi, a cidade paquistanesa mais populosa.
Na segunda parte do vídeo, o "sequestrador" pode ser visto devolvendo a criança e segurando um cartaz em que se lê: "Basta apenas um momento para uma criança ser sequestrada nas ruas de Karachi".
Segundo as autoridades indianas, essa parte foi retirada do filme compartilhado.
TVs locais também contribuíram para semear o pânico, ao alertar moradores de que 5.000 sequestradores de crianças haviam entrado pelo sul da Índia.
"Depois de assistir a esses vídeos e às notícias, ficamos preocupados com a segurança de nossas crianças. Não queremos deixá-las sozinhas nas ruas", diz uma moradora.
O resultado do vídeo falso não poderia ser mais trágico.
Vítimas foram caçadas nas ruas
Um homem de 26 anos que estava em Bangalore procurando emprego foi apontado por alguns moradores como um dos sequestradores. Ele teve as mãos e pernas amarradas, foi agredido, arrastado pelas ruas e morreu a caminho do hospital.
O caso foi registrado no final de junho. No mesmo período, uma mulher identificada como Shantadevi Nath também foi morta por uma multidão que acreditava que ela pretendia sequestrar crianças, nos arredores de Ahmedabad, no estado de Gujarat.
Em um outro linchamento recente, no estado de Tripura, no nordeste do país, a vítima foi um homem empregado pelo governo local justamente para ir a vilarejos dispersar rumores espalhados pelas redes sociais.
O governo da Índia já havia alertado ao WhatsApp —empresa de propriedade do Facebook— que a companhia não poderia se esquivar de sua responsabilidade pelo conteúdo que seus usuários estavam compartilhando.
O WhatsApp respondeu que estava "horrorizado com esses atos de violência terríveis" e que a situação era um "desafio que requer que o governo, a sociedade civil e as empresas de tecnologia trabalhem juntas".
O aplicativo de mensagens é isoladamente o maior serviço baseado na internet disponível para a população na Índia. Ele tem um alcance enorme, permitindo que as mensagens se espalhem com velocidade e que, a partir delas, multidões se reúnam rapidamente.
No início deste mês, a empresa destacou os passos que estava tomando para ajudar a resolver o problema, o que incluía permitir que os usuários saíssem de grupos e bloqueassem as pessoas com mais facilidade.