Ação da Lava Jato | A prisão de Michel Temer
O ex-presidente Michel Temer e seu amigo João Batista Lima Filho, conhecido como Coronel Lima, integram uma organização criminosa que atua no desvio de dinheiro público há 40 anos. A acusação foi feita hoje durante entrevista coletiva de procuradores do Ministério Público Federal, empenhados em destrinchar os crimes que levaram o ex-presidente e seu amigo a serem presos nesta manhã. Outros oito pedidos de prisão foram feitos, entre eles contra o ex-ministro Moreira Franco.
Na entrevista, os procuradores chegaram a dizer que a prisão de Temer não foi surpreendente, mas sim necessária.
Segundo o procurador Eduardo El Hage, a organização criminosa liderada por Michel Temer continuou operando após a Lava Jato, inclusive no ano passado.
Estranho seria se Michel Temer não estivesse preso (...) A forma como ele praticava os crimes é algo que nos causou muita surpresa, mesmo depois de 3 anos da Lava Jato
Eduardo El Hage, procurador da República
Segundo o MPF, Lima atuava desde os anos 1980 junto à Argeplan, embora só tenha formalizado sua participação na empresa no começo dos anos 2000. Para os procuradores, essa atuação oculta de Lima se dava no sentido de esconder a organização criminosa que integrava, além de proteger a imagem pública do ex-presidente Michel Temer.
"Coronel Lima e Michel Temer atuam desde os anos 1980 juntos. Essa amizade começou quando Temer era secretário de Segurança de São Paulo, e Lima era seu assessor militar", disse a procuradora da República, Fabiana
Schneider.
Esse grupo criminoso tem atuação há pelo menos 40 anos. Isso ficou muito bem constatado em toda a investigação feita pelo MPF, ao longo de algumas operações que foram deflagradas
Fabiana Schneider, procuradora da República
O MPF notou que a atuação de Temer e Lima se deu paralelamente ao ingresso da Argeplan em contratos com o poder público. "É visível o crescimento exponencial da empresa nos momentos em que Temer ocupava cargos públicos", disse Schneider.
Empresa sem capacidade técnica
Sobre o caso específico que levou à prisão de hoje, os procuradores informaram que Temer foi responsável pela escolha de Othon Luiz Pinheiro da Silva para chefiar a empresa Eletronuclear. A escolha teria o objetivo de conseguir contrapartidas para o núcleo criminoso liderado por Temer, segundo o MP.
Ainda de acordo com a investigação, a Argeplan foi escolhida para participar do consórcio de obras da usina nuclear de Angra 3 mesmo sem ter capacidade técnica para tal.
"Ele [Othon] foi colocado na Eletronuclear e, em contrapartida, foi exigida a contratação da Argeplan. Ela foi subcontratada pela empresa para uma tarefa que ela não tinha capacidade de executar. É uma empresa do coronel lima que fazia obras de pouquíssima complexidade, mas foi contratada como forma de verter todo o dinheiro público para Michel Temer", explicou o procurador Eduardo El Hage.
O caso
O ex-presidente foi preso na manhã de hoje acusado de atuar em esquemas de corrupção que envolvem mais de R$ 1,8 bilhão em propinas - pagas e prometidas. Entre as justificativas da força-tarefa da Operação Lava Jato para requisitar a prisão de Temer, estão a de que ele é líder de uma organização criminosa que inclui outros quadros do MDB.
Ao todo, o juiz federal Marcelo Bretas expediu dez mandados de prisão. Os envolvidos no esquema também são suspeitos de produzir documentos falsos para dificultar as investigações.
No pedido de prisão, o MPF listou 16 áreas em que os esquemas de Temer tiveram influência. Na lista, estão citadas estatais como Eletronuclear, Petrobras, Caixa, além da Câmara dos Deputados e outras instituições públicas.