Em festival de arte eletrônica, visitante pode controlar oceano e esticar corpos nus

Ao sair de um elevador, uma missão é dada: passar por um estreito corredor, em um andar elevado, e pegar uma bexiga. A tarefa se transforma em desafio quando parte dessa estrutura cai e um novo trajeto é proposto para a conclusão da tarefa.


A cena descrita pode se assemelhar com um filme de ação, mas trata-se da instalação em RV (realidade virtual) de um grupo japonês formado por Keigo Matsumoto, Yohei Yanase, Takuji Narumi e Yuki Ban. Ela está exposta no File (Festival Internacional de Linguagem Eletrônica) a partir desta quarta (4). 


Em “Unlimited Corridor” , o grupo nipônico cria a chamada “realidade mixada”, ou seja, ao lançar mão de equipamentos de realidade virtual, temos a sensação de estar andando em linha reta, quando, na verdade, damos voltas em uma estrutura esférica. 


O tema da 19ª edição do festival, realizado no prédio da Fiesp, é O Corpo É a Mensagem, uma paródia da expressão “o meio é a mensagem”, do filósofo canadense Marshall McLuhan.

Segundo Paula Perissinotto, que assina a curadoria do evento com Ricardo Barreto, a ideia de parafrasear McLuhan veio para afugentar a ideia do corpo como ciborgue. Na mostra, o corpo é um elemento que se relaciona com as obras.


No festival, várias outras instalações despertarão sensações da estirpe “isso é muito Black Mirror!”, referência à série da Netflix que associa fenômenos sociais à revolução tecnológica.


É o caso da obra “You Are the Ocean”, do duo americano Özge Samanci e Gabriel Caniglia, que permite que o público manipule o oceano usando apenas ondas cerebrais. Se você está focado, pode criar uma tempestade. Se não, o mar permanece calmo.


Já em “Outrospectre”, a realidade virtual insere o espectador em um avatar. Ao olhar para o espelho, nos enxergamos como um robô. Aqui, a proposta dos holandeses Frank Kolkman e Juuke Schoorl é tratar da possibilidade de flutuar fora dos nossos corpos. 


O evento conta também  com trabalhos de RV que discutem temas sociais. Em “Plug Your Nose and Try to Hum”, a italiana Martina Menegon cria um cenário em que corpos nus femininos flutuam.  Munido de óculos e controle manual, o público pode interagir com elas, esticando-as ou lançando-as. “É uma provocação da artista sobre o tratamento com o corpo feminino”, diz a curadora.


Presente nas 19 edições do festival, Paula Perissinotto acredita que a realidade virtual é a mais forte tendência tecnológica da exposição em contexto histórico, superando celulares e tablets.


“Neste ano, poderíamos ter tido uma exposição só de RV, mas as pessoas ainda não estão preparadas para isso”, diz. “É um recurso que tem uma grande possibilidade de transformação, já que, ao se desconectar visualmente, você entra em um outro mundo de uma forma muito intensa, que mexe com todos os nossos sentidos.”

 

Entre os que não utilizam VR está “Polytope”, de Ludmila Rodrigues, estrutura tetraérica de carbono que remete às impressões 3D e pode ser tocada pelos espectadores. 


Com 240 obras de artistas de 38 países, a edição deste ano tem uma galeria a menos no prédio da Fiesp. Segundo a curadora, o espaço ficou menor devido à diminuição de verba —eles não divulgam números. 


Assim, a prioridade foram as obras que ocupam espaços físicos. Outros trabalhos, como  gifs e animações, estarão disponíveis na plataforma do File Online.

Assista à uma das animações disponíveis no site: 


File
Desta qua. (4) até 12/8, no Centro Cultural Fiesp, av. Paulista, 1.313, tel. (11) 3146-7439. Ter. a sáb.: 10h às 22h. Dom.: 10h às 20h. Grátis

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