Esportes de praia dão sobrevida às carreiras de atletas aposentados
"Agora não é mais o saibro, mas sim a areia", afirma a ex-tenista Joana Cortez, 40, sobre o que acaba levando para casa nas roupas e materiais após um dia de treinos.
A carioca, que se aposentou da carreira de tenista profissional em 2007, iniciou sua trajetória no beach tennis em 2008. Hoje ela compete, tem uma academia na praia de Ipanema e ajuda a promover a modalidade, surgida na Itália, em várias partes do Brasil.
Joana será uma das representantes do país nos Jogos Sul-Americanos de Praia, realizados em Rosário, na Argentina, de 14 a 23 de março.
Vencedora de três medalhas em Jogos Pan-Americanos, a atleta chegou à posição de número 204 no ranking mundial de simples e 115 de duplas. Ela deixou o tênis profissional aos 28 anos e encontrou na praia uma forma de prolongar o ciclo de esportista.
"No beach tennis eu consigo me manter em alto nível e conciliar com outras atividades. Dou aulas, organizo eventos e clínicas e faço parte da comissão da federação internacional. O tênis tem um circuito muito desgastante e exige investimento muito mais alto", diz Joana, que já liderou o ranking na nova modalidade.
A adaptação, porém, exigiu treinamentos específicos para o jogo na areia, praticado principalmente em duplas.
"O movimento com a raquete é mais curto, não tem muita rotação de ombro e de quadril. É muito mais voleio, smash, a bola não quica", ela explica.
Quem também fez a transição para a areia foi Rodrigo Souto, 35, ex-jogador de futebol com passagens por Santos, São Paulo, Vasco e Botafogo.
Ao deixar os gramados no ano passado e emendar a carreira com o beach soccer, o ex-volante voltou às origens. Ele começou a jogar futebol na praia de Copacabana e sempre participou de partidas festivas na areia.
"Tem sido uma nova e velha carreira", brinca o ex-meia.
A mudança também teve motivação familiar. Sidney, irmão de Rodrigo, defendeu a seleção brasileira de beach soccer por vários anos.
"Recebi o convite quando parei e aceitei para jogar junto com meu irmão, amigos e grandes jogadores que vi crescer e que hoje estão juntos na seleção", diz Rodrigo Souto.
Sua primeira convocação para o time nacional foi no início do ano. Ele, que neste mês defendeu o Catania, da Itália, no Mundialito de Clubes, espera estar na lista dos Jogos Sul-Americanos.
"Torço muito para que o esporte cresça cada vez mais e chegue à Olimpíada. Espero que os organizadores pensem grande, porque é um esporte bonito de se ver", afirma.
Se Joana Cortez e Rodrigo Souto migraram para um esporte semelhante ao que já praticavam, a trajetória de Lena Ribeiro, 38, foi de recomeço. Nascida em Niterói, ela jogou handebol pela seleção brasileira nas categorias de base e chegou a defender a equipe profissional do Vasco.
Interrompeu a carreira nas quadras em 2002, aos 21 anos, porque já cursava faculdade de nutrição e sabia que continuar no esporte exigiria abrir mão de muitas coisas.
Lena então se formou, casou, foi morar em Arraial do Cabo (RJ) e teve filhos. Em 2011, o marido dela, profissional de educação física, se lesionou e passou a usar o stand-up paddle (SUP) como forma de recuperação. A modalidade entrou na vida da família, e logo Lena também estava participando de competições.
Contrariando as próprias expectativas de que não teria resistência para remar sobre a prancha por muito tempo, ela já venceu uma prova de 220 km disputada em quatro dias na Holanda e hoje é uma das principais representantes brasileiras do esporte.
Lena participará dos Jogos Sul-Americanos de Praia e do Pan-Americano de Lima, em julho, onde o SUP fará sua estreia num evento desse porte.
Sua volta à vida de competições, ela reconhece, ocorreu de maneira improvável.
"Num esporte diferente, muito tempo depois e numa idade em que normalmente as pessoas estão parando. Quando olhei para o stand-up pela primeira vez, eu tinha mais de 30 anos, até então nunca tinha visto. Não comecei do zero, mas do menos alguma coisa."
O evento nas praias de rio da cidade argentina será a quarta edição dos Jogos Sul-Americanos e servirá como preparação para a estreia dos Jogos Mundiais de Praia, em outubro, na cidade de San Diego (EUA).
A delegação enviada pelo Comitê Olímpico do Brasil será formada por 62 atletas de nove modalidades (são 13 no total) e pela primeira vez terá coordenação 100% feminina.
Mariana Vieira de Mello, chefe da missão do COB, afirma que a estratégia para os esportes olímpicos, como vôlei de praia, maratona aquática e vela, é levar equipes jovens e propiciar aos atletas a primeira experiência em um evento multiesportivo, como ambientação para os Jogos Pan-Americanos e Olímpicos.
Outros objetivos do comitê são apoiar modalidades de praia em que o país já tem tradição e, claro, conquistar medalhas no torneio.
"Mesmo que a gente vá com uma delegação jovem, é sempre importante ter atletas experientes, que ajudam a criar o clima adequado de disciplina e foco que a gente precisa numa missão", diz Mello.
Saiba mais sobre as modalidades de praia
Beach soccer
O primeiro campeonato oficial da modalidade foi o Mundialito realizado em 1994, em Copacabana. Em 2005, o beach soccer passou a ser reconhecido pela Fifa, que começou a organizar a Copa do Mundo a cada dois anos. O Brasil é o maior vencedor da competição (14 títulos)
Beach tennis
Criado no fim dos anos 1980, na Itália. A modalidade, que tem características do tênis tradicional e do badminton (a bola não quica), chegou ao Brasil em 2008, no Rio de Janeiro. Nomes como Joana Cortez, Samantha Barijan e Vinícius Font já lideraram o ranking mundial
Stand-up paddle
A prática de deslizar pela água sobre a prancha com o auxílio de um remo é bem mais antiga, mas a transformação do SUP em esporte competitivo ocorreu neste século. Hoje existem provas de ondas (não estarão nos Jogos Sul-Americanos) e de corrida, esta com trajetos variados (velocidade, técnica e de longas distâncias). A modalidade fará sua estreia no Pan-Americano de Lima