Montanhas e dinheiro fazem ciclismo colombiano vitorioso
No último domingo (28), o mundo viu o primeiro latino-americano ser campeão do Tour de France, a prova mais importante do ciclismo de estrada. "Esse triunfo não é só meu, mas de todo um país", disse o autor da façanha, o colombiano Egan Bernal, 22.
Longe de ser um ponto fora da curva, ele é o mais novo fruto de um país que é um celeiro de ciclistas campeões. O esporte é popular na Colômbia desde a década de 1950 e ganhou o mundo nos anos 1980, quando a equipe nacional colombiana passou a disputar provas no exterior e as grandes voltas na Europa.
Os ciclistas do país ganharam, na época, o apelido de escaravelhos [insetos com patas curtas que sobem em plantas], pois eram capazes de escalar com força qualquer montanha, mas se mostravam lentos nas etapas planas.
A estratégia de sucesso dessa época foi replicar a fórmula europeia: grandes marcas patrocinando times nacionais. O Café de Colômbia, uma marca da Federação Nacional de Cafeicultores --hoje proprietária da rede de cafés Juan Valdez —montou seu time para rodar a Europa atrás de subidas.
O primeiro colombiano a impactar o mundo do ciclismo com um resultado relevante foi Lucho Herrera, em 1987, ao vencer a Volta da Espanha. Em 1988, o Tour de France também veria um colombiano no pódio, quando Fábio Parra terminou na terceira colocação.
Durante toda a década de 1980, os escaravelhos sempre figurariam nos top 10 das grandes voltas. Na década de 1990, o brilho do esporte cedeu espaço ao acirramento da violência no país.
O ressurgimento do ciclismo colombiano nos anos 2000 deu início ao movimento que geraria Nairo Quintana, Rigoberto Urán e Egan Bernal, todos descobertos por olheiros e levados para equipes de grande porte na Europa.
Os três encerraram o Tour de France deste ano entre as dez melhores colocações. Nenhum outro país foi tão presente na elite. Quintana venceu a Volta a Espanha, em 2016, e o Giro d'Italia, em 2014, em uma dobradinha com Urán, em segundo.
No Tour de France de 2017, Urán também terminaria em segundo, atrás do tetracampeão Chris Froome.
Outros nomes como Sergio Henao, campeão da Paris-Nice, em 2017, e Miguel Angél López, que levou a Volta a Catalunha deste ano, também representam o país nos pelotões de mais alto nível do ciclismo de estrada.
As conquistas não ficam só no ciclismo de estrada. O maior nome do ciclismo colombiano hoje é Mariana Pajón, bicampeã olímpica e seis vezes mundial no BMX, modalidade na qual o país já se tornou uma potência e que vê nascer uma nova geração cheia de medalhas.
Na pista, a Colômbia ainda dá seus primeiros passos. Já conseguiu um quarto lugar na categoria omnium com Fernando Gaviria, na Olimpíada Rio-2016 —ele abandonou as pistas em 2017, para correr estrada na Europa.
O país investe para se desenvolver nessa modalidade olímpica. A Colômbia tem oito velódromos, dois deles com condições de receber campeonatos de nível internacional.
Antes mesmo de colocar dinheiro em várias disciplinas do ciclismo, a Colômbia transformou a bicicleta em um ente querido. Bogotá tem um dos projetos cicloviários mais elogiados do mundo, são mais de 500 km de ciclovias pela cidade, integradas com o transporte público.
O turismo de bicicleta também cresce ano a ano, com provas para amadores e uma boa estrutura para receber ciclistas que amam subir montanhas. Nesse ponto, o país não precisou investir, nasceu privilegiado.