Witzel diz que recebeu cortesia de hotel de luxo e depois muda versão
Um dia após afirmar que se hospedou com a família de graça num hotel de luxo em Angra dos Reis, o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), disse nesta terça-feira (7) que pagou os custos do próprio bolso.
Witzel afirmara na segunda (6) que o hotel Fasano havia cedido a hospedagem para ele e a família no último fim de semana. A prática contraria o Código de Conduta da Alta Administração Estadual.
“Minhas despesas pessoais eu paguei com meu cartão de crédito e o hotel fez a cessão da hospedagem para que minha família pudesse ficar naquele final de semana”, disse Witzel na segunda-feira (6).
Nesta terça, o governo fluminense disse, em nota, que “a conta do governador e da sua família foi paga integralmente pelo governador Wilson Witzel”. A nova versão foi apresentada após o Grupo Fasano negar à Folha ter oferecido gratuidade ao ex-juiz.
“A estada do governador Witzel não foi uma cortesia do Grupo Fasano. O Grupo Fasano não divulga informações acerca da hospedagem de seus clientes”, afirmou o hotel, em nota enviada à Folha.
A resposta do governo não informa o valor pago, o período da estadia nem quantos quartos foram usados.
O hotel de frente para a praia do Frade tem diárias que variam de R$ 1.700 a R$ 5.500. Os quartos têm entre 42 e 106 metros quadrados, todos com vista ou para a montanha ou para o mar.
O Fasano foi construído dentro de um condomínio na área do antigo Hotel do Frade, que encerrou suas atividades. Ele foi inaugurado em janeiro de 2018 e o projeto arquitetônico é assinado pelo escritório Bernardes & Jacobsen.
O governador tem um salário de R$ 19.681,33 brutos —em fevereiro, recebeu R$ 14.657,19 líquidos. À Justiça Eleitoral no ano passado ele declarou ter como único patrimônio uma casa de R$ 400 mil no Grajaú (zona norte), que permanece em seu nome.
Na eleição, ele doou para a própria campanha R$ 225 mil. Embora tenha declarado ter contas bancárias zeradas, ele apontou como origem dos recursos o pagamento de luvas pela entrada em dois escritórios de advocacia durante a campanha.
Ele é casado com a advogada Helena Witzel, que atualmente comanda, sem remuneração, o Riosolidário —obra social do governo estadual. Ela não tem declaração de bens pública.
Em Angra, o governador fez um sobrevoo no helicóptero da Polícia Civil, início de uma operação em favelas da cidade que seguiu até esta terça. A aeronave partiu de um gramado do condomínio em que fica o hotel.
Antes de embarcar, Witzel gravou um vídeo com um discurso duro contra os criminosos.
“Acabou a bagunça! Vamos colocar ordem na casa”, disse ele, ao lado do prefeito de Angra dos Reis, Fernando Jordão, e do secretário de Polícia Civil, Marcus Vinicius Braga, e policiais do Core (Coordenadoria de Recursos Especiais).
O governador também gravou um vídeo dentro do helicóptero durante o sobrevoo na cidade.
De bermuda florida e camisa preta, também está na imagem o vereador sargento Thimóteo (PR). Morador do condomínio em que funciona o Fasano, ele afirma que encontrou casualmente o governador no local.
“Fui fazer uma caminhada e encontrei o prefeito junto com o governador”, afirmou o vereador, que se reuniu há cerca de um mês com Witzel para pedir operações policiais na cidade.
Thimóteo ficou conhecido nacionalmente ao ser processado por Caetano Veloso e Chico Buarque após afirmar que os compositores eram “pilantras, subversivos que recebem bolsa ditadura”. A Justiça determinou que ele se retratasse, o que foi feito no plenário da Câmara Municipal.
A assessoria de imprensa de Witzel não respondeu até a publicação desta reportagem aos questionamentos da reportagem sobre a viagem.